A revista surgiu de alguns caminhos que se cruzaram no final de 2021 e no início deste ano.
Antes mesmo de montar o selo Vertigem, tive uma conversa com o Leco (Alex de Lima Paula) sobre fazermos algo envolvendo o metrô de SP sob a ótica da fotografia de rua. Trocamos algumas ideias e levantamos a possibilidade de estruturar um zine com esse tema, mas logo fui abduzido pela produção do Av. Paulista: de ponta a ponta. Ficamos de retomar essa conversa, mas ela caiu numa espécie de limbo e por lá ficou.
Alguns meses depois, já com o primeiro livro do selo publicado, o Rafa Rojas entrou em contato, propondo que a gente desenvolvesse um novo projeto justamente sobre o metrô. Ele já havia publicado uma obra por conta própria, o Underground stories, que aborda imageticamente esse transporte público de SP, mas estava interessado em expandir a ideia.
A partir daí, resgatei a conversa com o Leco e, juntos, montamos um grupo para fazer um “toró de parpite”, como se diz no interior. Decidimos pelo formato revista, convidamos alguns fotógrafos e fotógrafas cujos trabalhos admiramos para participar enviando imagens sobre o tema “trem e metrô em São Paulo” e estruturamos o conteúdo, mas necas de nome.
A princípio, ficamos entre Vertigem Mag e Revista Vertigem, até que meu camarada, Ricardo Rodrigues, que assumiu o trampo de diagramação do projeto, sugeriu Imagem Vertigem.
Imagem Vertigem foi o nome que dei a um espaço de curadoria de fotografia em uma rede social na qual fotógrafos e fotógrafas, profissionais e amadores, se estabeleceram para divulgar seus trabalhos e experimentações. Esse espaço não tinha o propósito apenas de curar imagens, mas também de lê-las pelos mais diversos caminhos, por meio do comentário analítico, da descrição quase jornalística, da crônica, da poesia, da narrativa insólita ou do mero balbucio.
A tal rede social parecia o local perfeito para essa experiência, pois era bastante amigável com esse meio de expressão (tenho dúvidas se ainda é) e já havia conquistado a adesão maciça de fotógrafos, inclusive a de consagrados, apesar da resistência de muitos, especialmente por causa do formato e do tamanho das imagens. Além disso, espaços de curadoria não eram uma novidade: existiam muitos bem-sucedidos, com estilos variados, abarcando quase todos os campos da fotografia. A novidade do Imagem Vertigem, acreditava eu, vinha dos textos, das leituras, quase todas elas feitas por não fotógrafos.
É inegável que essa rede social deu e ainda dá visibilidade, propicia trocas, estimula comércios, possibilita trabalhos, entre outras coisas...
Mas há algo de deprimente no aspecto excessivamente efêmero de uma postagem. Uma postagem leva a outra, que leva a outra, e, entre os corações das curtidas, nosso olhar e nossa memória não dão conta, nada parece ficar retido. Essa baixa durabilidade, essa passagem rápida de uma imagem impactante para outra – que logo é substituída pela seguinte, que pode ser igualmente impactante ou mesmo bem medíocre, não importa, já esquecemos a anterior – nos conduz adiante, mecanicamente, meio entorpecidos, e seguimos passando-as com o dedo indicador e um olhar catatônico até cansar. Restamos, depois, com uma vaga sensação de que perdemos tempo e de que nossa memória se converteu na memória de um peixe.
Para não cair numa lamúria interminável (“Ó, que vazio opressor engendrado pela contemporaneidade, quero ser salvo!”), havia pensado em apelar para aquilo que, em minha opinião, leva a uma contemplação mais demorada e, portanto, mais consistente da imagem: a materialidade de uma revista impressa. Mas não elaborei um cronograma, não sabia quando e como faria isso e fui tocando o hub.
Pensando em retrospectiva, organizando as ideias para escrever este editorial, percebo que fez todo sentido unir o projeto que Rafa, Leco e eu desenvolvemos e a vontade de transpor o espaço de curadoria da rede social para um meio material off-line. As coisas nasceram separadas, mas o Ricardo, ao sugerir o nome da revista, acabou por conectá-las. A criação desta revista, portanto, parece um passo natural.
É verdade que as revistas têm também algo de efêmero. Como os jornais impressos, seu destino é o descarte logo após a leitura. Ou, pior, virar banheiro de pet.
Esperamos que não seja o destino desta.
Então o que a revista Imagem Vertigem pretende? Seu propósito é modesto: ser um espaço de curadoria em que a fotografia brasileira (em particular a fotografia de rua, mas não só ela) seja valorizada e promovida, bem como um território livre para todo tipo de reflexão sobre a imagem. Ela quer também conquistar um espaço em sua prateleira e ser objeto de consulta recorrente.
Este número, como dissemos no início deste texto, traz como tema o metrô e o trem de São Paulo, que passou pelo escrutínio de 22 fotógrafos e fotógrafas de rua. Destacamos também uma entrevista que realizamos com José Bassit, fotógrafo conhecido por seu trabalho no fotojornalismo e na fotografia documental e que, recentemente, mergulhou no campo extremamente rico da fotografia de rua.
Se o Brasil deixar, esperamos produzir um número por semestre, sempre abordando um tema específico.
“É necessário sair do desespero sombrio e atingir o desespero alegre.”
TW Jonas.
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