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Entrevista com o fotógrafo José Bassit



José Bassit nasceu em São Paulo em 1957. Fotógrafo desde 1985, já teve seus trabalhos publicados nos principais jornais e revistas brasileiros e expostos em individuais em São Paulo, Maputo, Paraty e San José. Publicou dois livros: Imagens Fiéis (Cosac Naify, 2003), sobre a religião e a fé do povo brasileiro; e Olho de vidro (Vento Leste, 2021), que reúne seu trabalho em fotografia de rua. Seus registros fazem parte de acervos de instituições como a Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Museu de Arte de São Paulo (MASP).

Neste primeiro número da revista Imagem Vertigem, realizamos uma entrevista com o fotógrafo.


IMAGEM VERTIGEM Na pequena biografia que consta no livro Imagens Fiéis, publicado em 2003 pela extinta Cosac Naify, há a informação de que você se formou em Comunicação e começou a atuar como fotojornalista em 1985, publicando imagens em jornais como Folha de S.Paulo e Estadão e em revistas como Época e Veja. Como foi essa decisão de se tornar fotógrafo? Você já tinha um interesse por fotografia ou foi levado a ela por algum acaso?


JOSÉ BASSIT No início da faculdade de comunicação, já tinha começado a me interessar por fotografia. No curso de jornalismo, tive meu primeiro contato com o laboratório fotográfico, e aí o interesse só foi crescendo. No término da faculdade, no ano de 1983, tive a oportunidade de ir a Londres, onde entrei em contato com livros, revistas e galerias de fotografia, meio raros aqui na época. Foi uma grande experiência que me introduziu na fotografia documental. Nesse período, realizei um trabalho sobre o metrô londrino.


I.V.– Seu trabalho sempre foi associado ao fotojornalismo e à fotografia documental, mas, alguns anos atrás, você começou a se dedicar à fotografia de rua. O que te atraiu a esse campo? Como você compararia esse campo com os outros em que já atuou ou atua?


J.B. O começo da minha carreira foi no fotojornalismo, principalmente no Estadão. Uma escola prática que nunca vou esquecer. Passados alguns anos no jornalismo, resolvi, por conta própria, começar a desenvolver minha fotografia documental. O resultado disso foi meu primeiro livro, Imagens Fiéis, publicado em 2013, sobre a religiosidade do povo brasileiro. Daí em diante, comecei a desenvolver novos trabalhos, como os ensaios sobre o Ceasa, as festas de Iemanjá na Praia Grande, no qual ainda estou trabalhando, as barbearias e o Baixo Augusta. O fato de fotografar para mim mesmo acaba me dando grande liberdade de criação e [possibilitando] um envolvimento maior com o assunto fotografado, o que me deixa feliz.


I.V. Como é seu processo na rua? Costuma abordar as pessoas que fotografa? Tem algum lugar para onde costuma ir para fotografar?


J.B. A fotografia de rua entrou em minha vida em 2016. Tive um problema de saúde, fiz uma cirurgia bem invasiva, e o tratamento e a recuperação incluíam longas caminhadas. Após andar muito perto de casa, resolvi começar a caminhar pelo centro e levar meu equipamento fotográfico. A fotografia de rua foi uma grande surpresa para mim. No começo, não via nada que me interessasse. Passado um tempo, comecei a observar as luzes e as sombras, os grafismos e a arquitetura das ruas, e vi o quanto era fotograficamente rica a cidade. Procurei conhecer os trabalhos de rua de outros fotógrafos, e assim tentei desenvolver um estilo próprio. Gosto muito de fotografar no centro antigo de SP e arredores, a Av. Paulista e, principalmente, o metrô. Raramente abordo as pessoas, tento deixar os registros o mais natural possível.


I.V. Em uma entrevista para o podcast I hate podcast, a fotógrafa Graciela Magnoni diz que, na experiência dela, São Paulo é o pior lugar para se fazer fotografia de rua, porque as pessoas, de modo geral, reagem agressivamente quando são fotografadas. Concorda com ela?


J.B. Acredito que aconteça isso em todas as grandes metrópoles. Com certeza, tive dificuldades de fotografar aqui em São Paulo. Muitas pessoas desconfiam, e essa desconfiança aumentou depois da pandemia. Cheguei até a tomar um chute, uma vez, de um fotografado mais irritado, e, algumas vezes, tive que apagar as fotos para evitar uma confusão. Costumo fotografar as pessoas com muito respeito, mas às vezes elas não entendem o que estou fazendo.


I.V. Em 2021, você publicou Olho de vidro, obra que reuniu parte de seu trabalho no campo da fotografia de rua. Considerando que as redes sociais possibilitam uma divulgação ampla de uma produção fotográfica, especialmente no caso da fotografia de rua, que tem sido divulgada em uma série de páginas e espaços, alguns dos quais realizam curadorias bastante sofisticadas, por que é ainda interessante publicar livros de fotografia e/ou fotolivros? O que te atrai nesses formatos?


J.B. Acho que o livro é a melhor maneira de divulgar e preservar seu trabalho. Nas redes sociais a fotografia permanece apenas um dia, enquanto, no livro, ela se eterniza. Hoje em dia é mais fácil editar um livro por um valor menor que [o gasto em] uma exposição.


I.V. Você tem dois livros publicados, certo? Que acha do resultado final dessas publicações? Saíram dentro do que você tinha planejado, atenderam suas expectativas? Você costuma selecionar o editor/a editora com quem quer trabalhar?


J.B. Tive a chance de trabalhar com duas excelentes editoras, a Cosac Naify e a Vento Leste, que publicaram os livros Imagens Fiéis e Olho de Vidro, respectivamente. Nas duas, tive a liberdade de participar e opinar sobre o livro. Fiquei muito satisfeito com o trabalho, a dedicação e a qualidade das duas editoras.


I.V. Após tantos anos trabalhando profissionalmente com fotografia, diria que o fascínio por essa forma de expressão se mantém? O que você diria a um jovem interessado em atuar profissionalmente na fotografia?


J.B. A fotografia continua sendo minha alegria e meu ganha-pão. Continuo sentindo as mesmas emoções de quando comecei a fotografar. Para quem está começando, diria para estudar bastante, fazer cursos e workshops com bons profissionais e, principalmente, fotografar muito.


Para conhecer mais sobre o trabalho do artista, acesse o site https://www.josebassit.com.br e a conta no Instagram @josebassit_fotos.


Você pode apreciar parte das imagens presentes no livro Olho de Vidro e outras imagens de José Bassit na revista Imagem Vertigem n. 1, 2022, nas páginas 39, 42, 48, 49, 50, 51, 76, 86 e 119.

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