Apresentação do zine Canção sabática, por Felipe Mandarino
- tiagojonas9
- 29 de jun.
- 2 min de leitura

O mês de julho de 2019 foi um divisor de águas para mim: estava no auge do meu desenvolvimento na fotografia, clicando bastante, produzindo ensaios para um projeto de fotolivro ainda não lançado quando fui pego de surpresa por uma demissão do banco onde trabalhava.
Fiquei totalmente perdido, sem saber se andava para trás ou para frente.
Na mesma ocasião, o Gustavo Minas estava em São Paulo lançando seu primeiro livro, Maximum Shadow, Minimal Light, na Universidade de Belas Artes. Fiquei encantado com a apresentação e, no dia seguinte, resolvi comprar uma Fuji igual à dele (até aquele momento só usava Canon). A câmera chegou rápido, e, alguns dias depois, minha namorada me convidou a estreá-la no centro de São Paulo em uma tarde de semana qualquer. Estava me sentindo um lixo, um tremendo fracasso e culpado por estar em plena tarde de um dia de semana passeando com uma câmera no Sesc 24 de maio. Olhava aquela obra maravilhosa do
Paulo Mendes da Rocha, o Sesc, e não conseguia ver absolutamente nada. Além disso, inicialmente, não me dei bem com a Fuji.
Distraído, no último andar do Sesc, de repente, vi um senhor no prédio da frente, regando um vaso de flores no meio de toda a paisagem linda, porém dura, do centro de SP. O tempo parou ali. As sensações de
desespero e frustração foram embora por um instante. Tudo fez sentido. Pensei como era valioso aquele momento para ele, que já tinha idade mais avançada. Projetei nele a maturidade de uma vida que, diante de todo o emaranhado de concreto, se conecta com a natureza viva.
Consegui então descansar de mim mesmo por alguns minutos. À noite, em casa, à meia-luz, me veio o título Canção sabática. Sabática porque estava interrompendo os personagens que interpretava (o profissional, o filho, o amigo, o irmão e o namorado) e bloqueando as coisas que me intoxicavam.
Depois do encontro com esse senhor, felizmente, a vida cantou mais vezes essa canção para mim.
Celebro neste zine o acaso e os presentes que este traz. Celebro também a amizade, pois fiz esses registros acompanhado de amigos queridos que a dedicação à fotografia me proporcionou. Desde 2019, a vida seguiu com suas complicações triviais (salvo a pouca trivial pandemia), mas a fotografia me transformou para sempre.
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